Qual é a primeira coisa que vem à sua mente quando se fala em construir fortuna no mercado cripto? Volatilidade ou disciplina?
O mercado ainda mede o sucesso da Tether pelo risco que ela poderia ter. Contudo, o maior risco hoje pode ser a dimensão do seu sucesso.
Nos primeiros nove meses de 2025, a Tether, emissora da USDT, gerou um lucro acumulado que superou a marca de US$10 bilhões.
Esse resultado, além de rivalizar com o de gigantes bancários globais, estabelece uma nova fase daqueles que de fato financiam a dívida americana.
DISCIPLINA ALÉM DA ESPECULAÇÃO
Muitos supõem que a fortuna cripto nasce de trading de alto risco ou genialidade tecnológica. A verdade da Tether é muito mais simples, e por isso, mais robusta.
A empresa transformou sua dominância operacional do USDT em uma máquina de carry financeiro, focando em lastro seguro. A Tether ancorou a maior parte de suas reservas em ativos de baixíssimo risco. Estamos falando dos Títulos do Tesouro dos EUA (Treasuries).
Essa abordagem estratégica, amplificada por juros altos em 2025, gerou uma margem de lucro projetada para 99%. O sucesso da Tether está, paradoxalmente, em sua gestão disciplinada de reservas, a parte mais tradicional de seu negócio.
O CEO Paolo Ardoino reforçou essa perspectiva. Ele celebrou que os resultados do 3T 2025 demonstram que “os resultados do 3T 2025 refletem a contínua confiança e força por trás da Tether, mesmo em meio a um ambiente macroeconômico global desafiador, reforçando a marca da Tether como a ‘Empresa Estável’”.
OS DADOS QUE REFORÇAM O PODER DE QUASE-SOBERANO
Em setembro de 2025, a exposição total da Tether a Treasuries alcançou um recorde histórico. O volume foi de 135 bilhões de dólares (incluindo detenções diretas e indiretas).
A magnitude desse volume é surpreendente e coloca a Tether como a 17ª maior detentora de dívida dos EUA globalmente.
A empresa privada detém mais dívida americana do que nações soberanas do G20. Por exemplo, o volume da Tether supera o da Alemanha (107,7 bilhões de dólares) e o da Arábia Saudita (131,7 bilhões de dólares).



A disciplina de reservas garante a segurança do ecossistema. A empresa mantém um excesso de reservas de 6,778 bilhões de dólares, um robusto colchão de segurança contra choques de liquidez.
As reservas também incluem 12,9 bilhões de dólares em ouro e 9,9 bilhões de dólares em Bitcoin.
Além da escala das reservas, o lucro acumulado da Tether de US$10 bilhões nos primeiros nove meses de 2025 a posiciona entre os grandes bancos americanos em lucratividade.
Nesse mesmo período, o JPMorgan lucrou 44 bilhões, o Bank of America 23 bilhões, o Wells Fargo 16 bilhões, o Citigroup 11,8 bilhões e o US Bancorp 5,5 bilhões. A performance da Tether se aproxima dos resultados de bancos tradicionais de grande porte, apesar de operar fora do sistema bancário convencional.

RISCOS E O LIMITE DA TRANSPARÊNCIA
A escala da Tether a colocou em um papel sistêmico no sistema financeiro. Reguladores alertam para o risco de uma correção “desordenada” nos mercados soberanos devido à influência crescente de entidades não bancárias.
O medo da perda de liquidez global é algo que preocupa o Fundo Monetário Internacional (IMF). O IMF aponta que “os riscos de estabilidade financeira permanecem elevados… com pressão em mercados soberanos e influência crescente de instituições financeiras não bancárias (NBFIs)”.
Estudos sugerem que o volume de stablecoins comprando T-Bills pode reduzir os yields de T-Bills de 3 meses em 2 a 2,5 pontos-base (pb) em até 10 dias, após um choque de 2 desvios-padrão de influxos.
Já outro estudo acadêmico estimou que a fatia da Tether em T-Bills no primeiro trimestre de 2025 (aproximadamente 1,6% do estoque) gerou uma redução contrafactual de cerca de 24 pb no yield de 1 mês.
A transparência, contudo, tem limites. A atestação trimestral da BDO é baseada na norma ISAE 3000R. Este é um trabalho de asseguração sobre a informação selecionada. Ele não é equivalente a uma auditoria contábil completa das demonstrações financeiras. É apenas um retrato de um ponto específico no tempo.
O IMPERATIVO REGULATÓRIO E O FUTURO
O futuro exige maior conformidade e divulgação. O Financial Stability Board (FSB) publicou uma revisão temática em outubro de 2025. O relatório sinalizou lacunas e inconsistências na implementação de frameworks globais para criptoativos.
A tendência é o aumento do monitoramento. Para se adiantar a esse risco, a Tether tem se realocado e buscado alinhamento. Em janeiro de 2025, a Tether International se realocou para El Salvador, obtendo licença de Emissor de Stablecoin.
Essa busca por compliance e legitimidade é crucial. William Quigley, Co-fundador da Tether, disse que “as stablecoins são a verdadeira história da cripto… já temos mais volume de negociação em stablecoins do que em Bitcoin”.
ONDE ESTÁ O SEU FOCO?
A trajetória da Tether em 2025 demonstra que a disciplina financeira em ativos seguros pode gerar lucros estratosféricos e poder sistêmico. A empresa converteu dominância operacional em liquidez de baixo risco e reservas de valor. O sucesso da Tether transformou-a em um ator sistemicamente importante.
Se a 17ª maior credora de dívida dos EUA é uma empresa de cripto, isso talvez indique que você está subestimando o valor da segurança e da disciplina de ativos no seu próprio portfólio, caso não tenha alguma exposição ao Ethereum.
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