Inversão (e Desinversão) da Curva de Juros e Seu Impacto no S&P 500

A inversão da curva de juros é um fenômeno que sempre atrai a atenção dos investidores, pois é um dos principais sinais de uma possível recessão. Mas o que acontece depois que a curva volta ao seu padrão normal? E como isso afeta o desempenho do mercado de ações, em particular o S&P 500? Neste artigo, exploramos como a inversão e a desinversão da curva de juros impactaram o S&P 500, focando no desempenho nos 12 e 24 meses após esses eventos.

O QUE É A INVERSÃO DA CURVA DE JUROS?

A curva de juros representa a relação entre as taxas de juros de títulos do Tesouro que vencem em diferentes prazos. Normalmente, títulos de longo prazo oferecem juros mais altos do que títulos de curto prazo, refletindo um risco maior. No entanto, quando ocorre uma inversão da curva de juros, os títulos de curto prazo passam a oferecer rendimentos mais altos do que os de longo prazo, indicando uma preocupação maior no curto do que no longo prazo.

Historicamente, a inversão da curva de juros é um sinal precursor de recessões, pois aponta para uma expectativa de queda na atividade econômica e nas taxas de juros futuras. A curva mais amplamente utilizada para essa análise é a que compara os rendimentos dos títulos de 10 anos com os de 2 anos (10y-2y).

DESEMPENHO DO S&P 500 NOS 12 E 24 MESES APÓS A INVERSÃO

Após a inversão da curva de juros, o S&P 500 apresentou, na média, um crescimento. Nos 12 meses seguintes, o índice registrou um retorno médio de 13%. Já nos 24 meses seguintes, o retorno médio foi de 17%, equivalente a uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 8,2%, em linha com o desempenho histórico do S&P 500. Contudo, em alguns momentos, sinais de desaceleração econômica surgiram, levando a correções no mercado.

Por exemplo, após a inversão em junho de 1998, o S&P 500 teve um desempenho negativo de -9% nos 12 meses seguintes. Outro exemplo negativo foi após a inversão em agosto de 2006, quando o índice caiu -40% nos 24 meses subsequentes (CAGR de -22,5%). Em contrapartida, o melhor resultado de 12 meses foi observado em janeiro de 1982, quando o S&P 500 subiu 53%, enquanto o melhor retorno de 24 meses ocorreu após a inversão em agosto de 2019, com um ganho de 55% (CAGR de 24,5%).

DESEMPENHO DO S&P 500 NOS 12 E 24 MESES APÓS A DESINVERSÃO

Após a desinversão da curva de juros, o S&P 500 apresentou resultados mistos. Nos 12 meses seguintes, o índice teve um retorno médio de 11%, ligeiramente superior à média histórica de 8,6%. Contudo, nos 24 meses seguintes, o desempenho foi mais fraco, com um retorno médio de 8% (CAGR de 3,9%), bem abaixo do desempenho histórico do S&P 500.

Por exemplo, após a desinversão em dezembro de 2000, o S&P 500 teve uma queda de -13% nos 12 meses seguintes. Outro exemplo de desempenho ruim foi após a desinversão em março de 2006, quando o índice caiu -33% nos 24 meses seguintes (CAGR de -18,2%). Em contrapartida, o melhor resultado após 12 meses ocorreu em outubro de 1981, quando o S&P 500 subiu 34%, enquanto o melhor retorno após 24 meses ocorreu na desinversão de agosto de 2019, com um ganho de 28% (CAGR de 13,1%).

O QUE ISSO SIGNIFICA PARA O INVESTIDOR?

Há uma crença popular de que a inversão ou a desinversão da curva de juros são indicadores definitivos para prever topos de mercado. Entretanto, essa visão simplista pode ser arriscada, pois confiar em um único indicador isoladamente não é suficiente para assegurar previsões precisas. Embora a inversão e a desinversão da curva de juros tenham historicamente precedido recessões, o desempenho do S&P 500 após esses eventos nem sempre foi negativo.

Um bom exemplo foi o ocorrido após a última inversão da curva em julho de 2022, na qual o S&P 500 teve um desempenho bastante positivo, apresentando retornos de 11% e 34% nos 12 e 24 meses seguintes, respectivamente, contrariando expectativas pessimistas. Além disso, houveram momentos nos quais o mercado mostrou resiliência após a desinversão, com retornos significativos nos meses subsequentes.

CONCLUSÃO

A inversão e a desinversão da curva de juros são eventos muito observados no mercado financeiro. Embora muitos acreditem que esses sinais sejam definitivos para prever topos de mercado, apostar tudo em um único indicador é como navegar em águas turbulentas com um mapa incompleto. Mesmo que a inversão e a desinversão da curva de juros historicamente tenham precedido recessões, o desempenho do S&P 500 após esses eventos nem sempre foi negativo.

Sendo assim, reduzir a exposição pode ser prudente, caso você tenha um perfil mais cauteloso, mas zerar completamente a exposição em renda variável pode não ser a melhor decisão. Diversificação, uma visão equilibrada e a análise de múltiplos indicadores são fundamentais para navegar pelos altos e baixos do mercado de forma eficaz.

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Renan Zanella, CFA
Renan Zanella, CFA
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