Tenho pra mim que todo investidor com maior apetite ao risco, que aplica parte de seu patrimônio em ações, deveria ter uma noção mínima de contabilidade para entender – ainda que de maneira superficial – os releases de resultados das empresas. Dentre os principais balanços financeiros apurados, temos a Demonstração de Resultado de Exercício (DRE), a Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC) e também o Balanço Patrimonial (BP).
É difícil elencar um como melhor que o outro, até porque são bem complementares e apurados sob regimes contábeis distintos (regime de caixa e regime de competência, por exemplo) mas ousaria dizer que a DRE é a mais importante ao investidor de longo prazo.
De fato, a DRE registra uma bela análise quantitativa ao praticante do Buy and Hold, desde o entendimento da geração de receita de uma empresa, até o lucro líquido final reportado. No longo prazo, as cotações das ações tendem a acompanhar o lucro líquido reportado pelas empresas. Por este motivo, ao entender a DRE e todas suas variações ao longo dos anos, o investidor pode obter maior tranquilidade e segurança nas suas posições, diante de todas as incertezas que permeiam os investimentos em renda variável no curto/médio prazo.
Aqui, deixo gráficos do site Fundamentei mostrando a forte correlação que existe entre cotação ajustada pelos eventos acionários (dividendos, jscp, bonificações, etc) com o lucro líquido apurado por algumas empresas:
Já a DFC, que ocorre sob o regime de caixa, mostra ao investidor todas as alterações (entradas e saídas de dinheiro) que ocorreram no caixa da empresa em um determinado período. O caixa, por sua vez, faz parte do Balanço Patrimonial, outra demonstração financeira que as empresas reportam em seus resultados. Todas as informações, de certa forma, “conversam entre si”, ainda que em regimes diferentes, permitindo ao investidor uma análise transparente e aprofundada da empresa que está analisando e/ou investindo.
Ao desmembrarmos a Demonstração de Fluxo de Caixa da empresa, temos:
FCO (Fluxo de Caixa Operacional)
FCI (Fluxo de Caixa de Investimentos)
FCF (Fluxo de Caixa de Financiamentos)
O Fluxo de Caixa Operacional (FCO) é o somatório das entradas e também das saídas do caixa da empresa, referente às operações dela. Ou seja, vai contemplar como entrada a venda de um bem, ou da prestação de um serviço. Depende da atividade que a empresa desempenha. As saídas que ficam registradas no FCO são as de pagamentos de funcionários, de despesas com vendas, gerais e administrativas – alugueis, contas e outras não relacionadas diretamente ao produto da empresa – e compra de estoque ou de matéria prima pra esse estoque. Normalmente o FCO fecha no positivo em empresas “saudáveis”, mas claro que isso depende do que a empresa fez em determinado exercício. A WEG, que é considerada uma das melhores empresas da nossa bolsa, por exemplo, fechou com FCO negativo no primeiro trimestre de 2022, porque tinha que fazer uma compra relevante de estoques.
O Fluxo de Caixa de Investimentos (FCI) é o somatório das entradas e também das saídas do caixa da empresa, referente aos investimentos que ela faz. Normalmente é negativo em empresas saudáveis, já que uma empresa utiliza do seu caixa (por isso negativo, sai dinheiro do caixa) para a empresa fazer investimentos. É a coluna do CAPEX, da compra de ativos imobilizados e também intangível, que observamos nos releases das empresas. Temos que ficar em alerta quando uma empresa tem um FCI positivo. Nesse caso, ela estaria desmobilizando com venda de maquinário ou imóveis, por exemplo. Os resgates das aplicações financeiras também entram aqui no FCI, com os juros dessas aplicações podendo favorecer o FCI. Já quando uma empresa faz uma nova aplicação, tem uma saída do FCI. As seguradoras como a Porto têm saídas do FCI bem consideráveis, por exemplo, não pelo CAPEX e sim pelas aplicações que fazem pra aumentar sempre que possível o volume do caixa pra cobrir os sinistros, se necessário.
A terceira informação da DFC é a do Fluxo de Caixa de Financiamentos (FCF), que flutua bastante e representa as entradas com emissões de ações, financiamento mediante captação de dívida (como emissão de debêntures, por exemplo) e saídas diante do pagamento de empréstimos, juros e proventos. É daqui que sai a informação dos dividendos pagos aos acionistas. O FCF mostra as transações do caixa da empresa com os credores, de quem ela toma dívida, e com seus sócios, os acionistas.
Diante de todas essas alterações, temos Fluxo de Caixa Total, que mostra detalhadamente as entradas e saídas do caixa da empresa. Resumindo o tópico deste post, temos na DFC a observação dos objetivos e práticas da gestão da empresa aos seus respectivos projetos, de sua alavancagem e endividamento, da postura de crescimento/dividendo pelo volume de dividendos distribuídos aos acionistas e do seu CAPEX.
Onde você pode encontrar esses dados, além dos próprios releases? Existem várias plataformas que disponibilizam estas informações compiladas, como Status Invest, Fundamentei e Oceans14, entre outras.
Deixo para vocês um exemplo do layout do Status Invest e todas as alterações do caixa da WEG, para tornar prática a análise diante do conteúdo teórico do post:
Gosto da analogia de que o caixa é o coração da empresa, responsável por todas as ações que envolvem seu funcionamento e também de uma projeção futura aos seus resultados aos próximos anos.
Espero ter contribuído ao seu entendimento! Bons estudos, e bons investimentos.
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Por: Lucas Viero De Conti, CNPI 4021
Obrigado! Parece excelente o conteúdo!
[…] o S&P500. O foco no mercado de equities está direcionado para empresas de qualidade, com CAPEX (mais informações sobre fluxo de caixa você encontra nesse artigo) moderado e condizente com o Fluxo de Caixa […]