Trarei hoje 9 gráficos de indicadores de valuation do S&P 500, o principal índice acionário dos EUA. Garanto que alguns desses indicadores você nunca viu, muito menos com uma base histórica tão longa.
Este artigo é inspirado no artigo “16 Different Stockmarket Valuation Indicators”, publicado no site Topdown Charts, pelo Callum Thomas. Para termos uma abordagem mais precisa, optei por selecionar apenas os indicadores mais relevantes, na minha opinião.
Antes de iniciarmos, é importante lembrar que nenhum indicador deve ser seguido cegamente. Por mais preciso que ele seja, sempre existirá um momento no qual ele não funcionará, e quando isso acontecer, as consequências no seu patrimônio podem ser devastadoras. Por isso, sempre use vários indicadores como guia nas suas tomadas de decisão.
PREÇO / EXPECTATIVA DE LUCRO (12 MESES À FRENTE)
Um dos indicadores de valuation mais comuns é o preço em relação ao lucro dos últimos 12 meses. Porém, ele costuma ser bastante impreciso, dado que o lucro passado não reflete as expectativas futuras e que, por sua vez, influenciam no preço presente. Por esse motivo, é mais adequado utilizar a expectativa de lucro para os próximos 12 meses, ao invés do lucro nos últimos 12 meses.
Puxando os dados desde 1985, podemos notar que houveram momentos nos quais o indicador de fato sinalizou que os preços estavam esticados, como no início dos anos 2000. Contudo, o mesmo não aconteceu em 2007/08, 2019/20 nem em 2021. E hoje, o S&P 500 está em níveis próximos das máximas de 2021 e da máxima histórica, atingida em 1999.
CAPE SHILLER RATIO
Um método idealizado pelo economista Robert Shiller, autor do livro “Exuberância Irracional”, foi adaptar o famoso indicador Preço / Lucro. Nesta adaptação, o autor buscou “normalizar” o denominador da equação (o lucro), utilizando tanto o ajuste pela inflação (CPI) quanto pegando a média de um período mais alongado (10 anos). Desta forma, o indicador estaria, na sua visão, bem menos influenciado por distorções de curto prazo, sejam elas positivas ou negativas.
Avaliando o seu resultado histórico, também podemos afirmar que ele teria servido como um bom parâmetro, em especial, na bolha das empresas de tecnologia, no final dos anos 1990, e em 2021. Por outro lado, como nenhum indicador é infalível, ele não foi capaz de apontar o topo de mercado em 2007/08 nem em 2019/20. De todo modo, segundo o site multpl.com, o indicador se encontra em 34, bem acima da sua média histórica, mas ainda um pouco longe das suas máximas históricas.
PREÇO EM RELAÇÃO AO FLUXO DE CAIXA DAS OPERAÇÕES (PRICE / FFO)
Como você já deve ter percebido, um dos parâmetros mais utilizados para calcular um valuation é a capacidade de gerar fluxo de caixa. Até o momento, utilizamos as expectativas de lucro para os próximos 12 meses e a média do lucro real do S&P 500. Para este indicador, por sua vez, utilizaremos o famoso Funds From Operation (FFO), ou Fluxo de Caixa das Operações, em português.
Utilizando esta métrica, podemos notar que ela teria sido uma boa régua para os excessos vividos em 2000 e em 2021, mas não em 2007/08 nem em 2019/20. Hoje, o indicador está próximo de sua máxima, o que sugere um sinal de cautela.
PREÇO EM RELAÇÃO AO VALOR PATRIMONIAL (P / VP)
Vamos agora para o indicador Preço / Valor Patrimonial (price to book, em inglês). A lógica por trás dele é simples. Toda empresa possui um patrimônio para poder operar, logo, podemos utilizar esse patrimônio como parâmetro, ao compará-lo com o valor de mercado da empresa (ou, nesse caso, de todas as empresas do índice).
Utilizando esta métrica, mais uma vez, teríamos um sinal de alerta em 2000 e em 2021, mas não em 2007/08 nem em 2019/20. E, segundo o último dado divulgado, o S&P 500 estaria rivalizando com a valoração atingida em 2021, ficando atrás apenas do patamar atingido na bolha da internet.
VALOR DA FIRMA EM RELAÇÃO AO EBITDA (EV / EBITDA)
Outra métrica que costuma ser utilizada é a comparação do Valor da Firma (enterprise value, em inglês), que soma o Valor de Mercado com a dívida líquida, dividindo-o pelo Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização (ou EBITDA, na abreviação em inglês). Alguns gostam de utilizar o EBITDA, ao invés do Lucro, por ele ser uma métrica mais real do quanto de caixa uma empresa consegue gerar; por mais que grande parte dele ainda vá ser utilizado para pagar as dívidas, os impostos e a depreciação.
Utilizando esta métrica, podemos notar que um sinal de alerta teria sido emitido em 2000, mas não necessariamente nos demais anos. Além disso, no início de 2021 ele também teria atingido a máxima histórica, porém, como nós sabemos, o S&P 500 seguiu em tendência de alta por mais um ano, antes de corrigir.
PREÇO EM RELAÇÃO ÀS VENDAS (PRICE TO SALES OU PSR)
O comparativo do preço com o volume de vendas (também chamado de receita líquida) pode nos dar um bom indício da valoração de uma empresa ou de um índice. Avaliando o histórico, podemos notar que o sinal teria sido útil em 2000, mas não nos demais anos. Como você já deve ter percebido, de fato, não existe um único indicador que nos permita afirmar quando o S&P 500 está barato ou caro. Todos eles possuem pontos fortes e pontos fracos e, por esse motivo, cabe a nós analisar vários indicadores, a fim de tomarmos a melhor decisão possível.
MARKET CAP / GDP (BUFFETT INDICATOR)
Este indicador foi popularizado pelo Warren Buffett, o oráculo de Omaha. Nele, compara-se o valor de mercado das empresas norte-americanas com o PIB. Para normalizar a tendência de alta desse indicador, dado que as empresas estão cada dia mais presentes em outros países, foi utilizado a média exponencial e o z-score. Deste modo, podemos analisá-lo de uma maneira mais fácil.
Seus sinais teriam sido úteis em 2000, 2020 e em 2021. Mais especificamente, seus alertas atingiram o pico na bolha ponto com e antes da correção ocorrida em 2022. Já o último dado sinaliza que o S&P 500 estaria num território caro, por estar a 1,6 desvio padrão da média histórica.
PRÊMIO DE RISCO (EQUITY RISK PREMIUM)
Os investidores racionais precisam ter um bom motivo para optar por correr o risco da renda variável, ao invés de permanecer na monótona porém previsível renda fixa. Uma das formas de se estimar quão favorável está para se posicionar no mercado acionário é comparando o “rendimento esperado das ações”, medido pelo earnings yield (métrica calculada pelo Lucro / Preço) menos o juro real de 10 anos do Governo. No caso deste indicador, o autor do artigo original preferiu utilizar o lucro médio dos últimos 10 anos para calcular o earnings yield, ao invés do lucro dos últimos 12 meses. Creio que a decisão siga a mesma lógica do que foi implementado no indicador CAPE Shiller.
Avaliando o prêmio de risco, notamos que, de tempos em tempos, ele atinge níveis abaixo de zero, e níveis bastante positivos. Contudo, nem todas as vezes que ele rondou o território negativo significou que seria uma boa sair do mercado acionário, como foi o caso em 1995 e em 1997. Hoje, o indicador se encontra em território levemente positivo.
“TRANSFORMAÇÃO PURA DOS PREÇOS”
Este é, sem dúvidas, o indicador mais polêmico de todos. Nele, o autor do artigo mesclou 3 indicadores que usam exclusivamente o preço como parâmetro. Foram eles um fator de reversão à média de 3 anos (preço / média móvel de 3 anos), fator de reversão à média de 5 anos e o desvio do preço em relação à tendência. Em resumo, o objetivo do autor foi criar um indicador que se baseia nas médias históricas do preço e torná-lo um indicador de retorno à média.
Com base nesse indicador, seria possível ter alguns sinais de excesso, tanto quando o mercado estava caro (em 1987 e 2000), quanto quando estava barato (1975, 2003 e 2009). Nada mal, para um indicador nada convencional.
CONCLUSÃO
Depois de todo esse apanhado de indicadores, espero que você tenha aprendido que (1) analisar o valuation antes de investir é algo importante e que (2) não existe um único indicador que sempre acerte a hora de comprar ou de vender. Sendo assim, nossa maior proteção contra eventos extremos é a diversificação acompanhada do rebalanceamento.
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