Seja Mais Razoável e Menos Racional

INTRODUÇÃO

Quando o assunto é dinheiro, muitas pessoas tendem a acreditar que a melhor forma de alcançar o sucesso financeiro é adotando uma postura fria, lógica e totalmente racional. No entanto, essa visão é bastante limitada. As decisões financeiras são profundamente influenciadas pelas emoções e pelo contexto em que vivemos, e tentar ignorar isso pode resultar em escolhas que, embora matematicamente corretas, não funcionam na prática. Ser razoável, ao invés de puramente racional, é uma abordagem mais sustentável, pois leva em consideração tanto os números quanto o lado humano das decisões.

Neste artigo, vamos explorar como a razoabilidade pode ser mais eficiente do que a racionalidade ao tomar decisões financeiras. Vamos discutir a importância de equilibrar lógica e emoção, entender a relação entre arrependimento e escolhas financeiras, e como se manter fiel a uma estratégia razoável pode ser a melhor opção a longo prazo.

A IMPORTÂNCIA DE SER RAZOÁVEL NAS FINANÇAS

Ser razoável nas finanças significa entender que nem sempre a decisão mais lógica e racional é a que trará os melhores resultados. As pesquisas acadêmicas muitas vezes focam em encontrar a estratégia matemática ideal para maximizar retornos, mas, na vida real, as pessoas precisam de algo além dos números para lidar com suas finanças pessoas e seus investimentos. Housel explica da seguinte forma: “não tente ser friamente racional ao tomar decisões financeiras. Procure ser bastante razoável. Ser razoável é mais realista, e as chances de você se manter razoável a longo prazo são maiores”.

Essa abordagem é especialmente importante quando consideramos as flutuações do mercado financeiro e o impacto que elas têm nas nossas emoções. O investidor que busca apenas a racionalidade pode se ver preso em um ciclo de frustração e ansiedade, especialmente durante períodos de queda. Por outro lado, quem se mantém razoável consegue navegar melhor pelas adversidades, já que suas decisões levam em conta não apenas o retorno financeiro, mas também a paz de espírito ao lidar com o dinheiro.

EXEMPLO DO MÉDICO JULIUS WAGNER-JAUREGG

A história de Julius Wagner-Jauregg, um médico do século XIX, ilustra perfeitamente a diferença entre o que é racional e o que é razoável. Ele desenvolveu um tratamento para a sífilis que envolvia a indução de febres altas usando malária. Embora a lógica por trás disso fosse cientificamente sólida — febres ajudavam no combate a infecções — o tratamento era extremamente perigoso, causando a morte de alguns pacientes. Esse experimento lhe rendeu o Prêmio Nobel, mas é um exemplo claro de uma abordagem puramente racional que, para a maioria, era longe de razoável.

Esse exemplo reforça o ponto de que nem sempre o que é racional é a melhor opção na prática. “Pode ser racional querer ter febre se você está com uma infecção. Mas não é razoável.” Assim como no caso do médico, no mundo financeiro, uma estratégia pode ser matematicamente perfeita, mas se for difícil de suportar emocionalmente ou causar sofrimento a quem a adota, dificilmente será mantida a longo prazo.

A RELAÇÃO ENTRE INVESTIMENTOS E EMOÇÕES

Decisões financeiras nunca acontecem num vácuo. Elas são profundamente afetadas pelas emoções, e tentar separar completamente a lógica dos sentimentos pode ser um erro. Housel argumenta que muitos investidores buscam estratégias puramente racionais, mas, no mundo real, as emoções desempenham um papel crucial. Um exemplo disso é a forma como Harry Markowitz, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, lidou com seus próprios investimentos. Mesmo sendo um gênio da matemática, ele não seguiu suas teorias à risca.

Markowitz declarou: “Eu imaginei o remorso que sentiria caso a bolsa de valores subisse e eu não tivesse ações — ou se ela caísse e eu estivesse cheio delas. Minha intenção era minimizar meu arrependimento no futuro.” Essa afirmação demonstra como até mesmo grandes nomes do mundo financeiro reconhecem a influência das emoções em suas decisões. Em vez de seguir cegamente a lógica matemática, ele optou por uma abordagem que fosse emocionalmente tolerável, dividindo seus investimentos de forma que pudesse dormir tranquilo, um princípio que vale para todos os investidores.

AMAR SEUS INVESTIMENTOS PARA PERSISTIR

Uma das maiores vantagens de ser razoável ao investir é o compromisso de longo prazo que isso gera. O autor destaca que, embora muitos investidores tentem manter uma postura totalmente racional e sem envolvimento emocional, essa abordagem pode falhar quando as coisas ficarem difíceis. Amar seus investimentos, ou pelo menos ter um interesse genuíno neles, ajuda a manter a persistência necessária para atravessar os períodos desafiadores.

“Investidores razoáveis que amam suas estratégias tecnicamente imperfeitas estão em vantagem, porque são mais propensos a se manterem fiéis a essas estratégias.” Dessa forma, o autor reforça a ideia de que, em vez de tentar seguir cegamente o que é racional, uma abordagem razoável e emocionalmente satisfatória oferece mais chances de sucesso. Ao investir em algo que realmente te interessa, a motivação para continuar e suportar os altos e baixos do mercado é muito maior, o que é essencial para garantir resultados sólidos ao longo do tempo.

CONCLUSÃO

As decisões financeiras vão muito além dos números. Elas são moldadas por emoções, contextos e experiências que nos acompanham diariamente. Ser puramente racional pode parecer o caminho ideal, mas é na razoabilidade — no equilíbrio entre lógica e humanidade — que encontramos uma forma de lidar com o dinheiro de maneira mais leve e sustentável. No fim das contas, finanças não são apenas sobre maximizar ganhos, mas também sobre garantir que possamos dormir tranquilos à noite.

“Algo pode ser tecnicamente verdadeiro, mas absurdo quando colocado em contexto.” Essa reflexão nos lembra que as escolhas mais inteligentes são aquelas que conseguimos manter a longo prazo. E a verdade é que só conseguimos manter algo quando ele faz sentido para a nossa vida, para as nossas emoções. Ser razoável nas finanças é, acima de tudo, uma forma de cuidar não apenas do nosso bolso, mas também do nosso bem-estar. No jogo do dinheiro, vencer não é só uma questão de resultados imediatos, mas de consistência e paz de espírito.

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Renan Zanella, CFA
Renan Zanella, CFA
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