Durante anos, a OpenAI foi símbolo do equilíbrio instável entre filantropia, inovação e ambição privada. O laboratório que nasceu com o compromisso de garantir o benefício público da inteligência artificial agora acelera rumo ao mercado com o IPO mais ambicioso já cogitado para uma empresa de tecnologia. Só que o preço dessa escalada é a tensão crescente sobre a própria essência do projeto.
A última decisão definitiva veio em outubro de 2025, quando, ao criar a OpenAI Group PBC (sociedade de benefício público) e transferir a governança institucional à OpenAI Foundation, a empresa removeu as amarras contratuais que bloqueavam grandes captações e, ao mesmo tempo, trouxe para dentro a Microsoft como acionista de peso (com cerca de 27%).
Como resultado foi aberta uma janela inédita para captar dezenas de bilhões de dólares e preparar um IPO com valuation que pode bater US$ 1 trilhão, mas também um aumento radical no escrutínio público e no dilema missão x mercado.
O QUE MUDOU: O FIO DA NAVALHA ENTRE PROPÓSITO E ESCALA
Até 2025, a arquitetura híbrida da OpenAI colocava restrições ao seu próprio crescimento. Cada avanço em IA exigia investimentos maciços em infraestrutura e talento, e cada rodada era limitada por contratos que proibiam diluição ou parcerias em larga escala.
Isso mudou de forma abrupta com o pacto firmado com a Microsoft. A empresa passou a deter 27% do grupo, comprometeu-se a consumir volumes gigantescos de Azure (com contratos de até US$ 250 bilhões) e removeu cláusulas que antes travavam o avanço institucional.
OS NÚMEROS: VALUATION, MÚLTIPLOS, RECEITA E PREJUÍZO
A mudança de paradigma é explicada em números. O valuation saltou de US$ 3 bilhões em 2019 para US$ 14 bi (2021), US$ 29 bi (2023), US$ 86 bi (dez. 2023), US$ 157 bi (out. 2024), US$ 300 bi (mar. 2025) e bateu US$ 500 bilhões (out. 2025), segundo ofertas secundárias.
O múltiplo EV/Receita, que já chegou a 500x (2021), recuou para 145x (jan. 2023), depois 53,8x (dez. 2023), 42,4x (dez. 2024), 30x (jun. 2025) e 41,7x (out. 2025).

A evolução da receita mostra outro ângulo. Em 2020, a OpenAI tinha apenas US$ 3,5 milhões de receita. Já em 2022 ela saltou para US$ 200 milhões, US$ 1,6 bi (2023), estimado de US$ 3,7 bi (2024), depois US$ 12 bi (jul. 2025, anualizado) e US$ 20 bilhões (dez. 2025). Mas o gasto, por incrível que pareça, segue muito maior do que suas receitas, saindo de –US$ 2 bilhões em 2023, –US$ 5 bilhões (2024), –US$ 8 bi (dez. 2025). Em 2025, só no primeiro semestre, a empresa investiu US$ 2,5 bi além da própria receita e até 2029 é estimado que a empresa tenha um prejuízo acumulado próximo dos US$ 110 bi.

A Microsoft liderou aportes em 2019 (US$ 1,15 bi), 2023 (~US$ 10 bi), além de uma linha de crédito de US$ 4 bi (2024) e participação direta em rodadas Series E (US$ 6,6 bi, 2024), Series F (US$ 40 bi, 2025) e no projeto Stargate (US$ 100 bi). Esse fluxo acelerou o ritmo de inovação, mas ampliou a dependência institucional com a Microsoft.
MISSÃO, VISÃO E ….. VALORE$
O investidor que olha para esse cenário precisa ter o máximo de lucidez possível. O documento S-1, que será arquivado antes do IPO terá as cláusulas sobre poder de veto da OpenAI Foundation, os direitos preferenciais da Microsoft, as regras “as-converted” (que determinam diluição futura) e os limites para conversão de ações.
Sam Altman não esconde que o objetivo é a busca de capital, já que os volumes necessários para seguir com os projetos audaciosos da empresa não conseguir ser plenamente financiados por capital privado.
“Eu acho que é justo dizer que esse é o caminho mais provável para nós, dadas as necessidades de capital que teremos”, afirmou Altman. “Isso é um marco importante que clarifica a relação entre Microsoft e OpenAI e cria um caminho para a lucratividade da OpenAI”, resume Dan Morgan, gestor institucional.
POR QUE TODO MUNDO ESTÁ OLHANDO?
Os múltiplos ainda estão em patamares elevados e a captação massiva tende a privilegiar investidores com mais apetite e acesso prioritário, como os já presentes nas primeiras rodadas de captação. Ao mesmo tempo, o risco é proporcional ao tamanho, já que qualquer surpresa regulatória ou mudança de humor de mercado pode forçar um ajuste drástico de valuation.
DOIS FUTUROS POSSÍVEIS: O QUE ESPERAR
O IPO confirma uma nova era para a IA, captação acima de US$ 60 bi, governança protegida, e OpenAI consolida domínio com receitas exponenciais. Nesse cenário, os investidores pacientes seriam recompensados.
Por outro lado, o IPO pode “patinar”, com órgãos reguladores e tensões envolvendo a suposta missão reduzindo o apetite dos investidores, o valuation e múltiplos.
Se você busca ajuda de um time qualificado e independente para te guiar nesses movimentos de mercado, entre em contato com a Zanella Wealth: https://zanellawealth.com.br/contato/


