ETFs: Quando o Acesso Vira Efeito Manada

Como o boom dos ETFs pode acelerar (ou corroer) seus retornos antes que você perceba

Os ETFs deixaram de ser uma ferramenta para investidores sofisticados e se tornaram uma febre global. Hoje, há mais fundos listados na NYSE do que ações (4.000 contra 2.400). O que antes era visto como um instrumento passivo e previsível, virou uma avalanche de produtos exóticos, temáticos e, muitas vezes, oportunistas.

Nos últimos dois anos, mais de US$ 2 trilhões migraram para ETFs, elevando o patrimônio total para quase US$ 11 trilhões. Um em cada três dólares investidos em fundos de longo prazo já está nesses produtos. E essa transformação gerou um efeito colateral preocupante: a explosão de ETFs com estratégias frágeis, baixa liquidez e foco em tendências passageiras.

A indústria encontrou na “democratização” uma nova narrativa. O caso mais emblemático vem da parceria entre Apollo e State Street, que lançou um ETF de crédito privado com acesso a um portfólio de US$ 600 bilhões, algo antes reservado a milionários. Agora, qualquer investidor com uma conta na corretora pode comprar uma fração disso com um clique.

Só em 2024, mais de 700 ETFs foram lançados. Destes, 70% são ativos, tentando replicar a performance de gestores como Cathie Wood, da ARK. Seu ETF, o ARKK, ilustra bem os riscos, onde, depois de subir 150% em 2020, perdeu 75% nos dois anos seguintes, acumulando uma performance negativa frente ao Nasdaq de mais de 100%.

Mesmo com histórias como essa, a indústria continua crescendo. O fim da patente da Vanguard sobre a criação de ETFs como classe de cotas de fundos tradicionais abriu as portas para mais de 60 gestoras tentarem copiar o modelo. Grandes casas como JPMorgan, Fidelity e T. Rowe Price já entraram no jogo.

O apelo dos ETFs é legítimo. São baratos, com a taxa média nos EUA é de 0,16% ao ano, contra 0,40% dos fundos tradicionais. São eficientes do ponto de vista fiscal, pois trocam ativos sem gerar ganho de capital imediato. E são líquidos, já que são negociados como as ações, com preços em tempo real.

Mas o crescimento desenfreado cobra um preço. Estudos mostram que ETFs temáticos frequentemente são lançados no auge das tendências e costumam ter desempenho significativamente inferior aos benchmarks nos anos seguintes.

ESTUDOS ACADÊMICOS E SUAS CONCLUSÕES

Três estudos recentes reforçam esse alerta. O paper “Competition for Attention in the ETF Space”, analisou mais de 1.000 ETFs especializados lançados entre 1993 e 2020 e encontrou um alpha negativo médio de cerca de –6% ao ano nos primeiros cinco anos após o lançamento. Em outra divulgação, os mesmos autores estimam que investidores em ETFs temáticos ganham, em média, 30% a menos que investidores em fundos diversificados ao longo dos cinco primeiros anos. Complementando, um seminário promovido pela Universidade da Suíça Italiana (USI) reporta uma underperformance média de aproximadamente -5,4% a.a., reforçando a consistência das conclusões anteriores.

No fim, muitos fecham por falta de “tração”. E a liquidez, embora presente nos grandes fundos, é ilusória nos menores, que mal negociam no dia a dia.

COMO EVITAR OS ERROS BÁSICOS

Para evitar que você também vire estatística, ficam aqui algumas sugestões:

  1. Priorize ETFs amplos, baratos e líquidos, com taxas abaixo de 0,10% (nos EUA) e alto volume diário.
  2. Limite a exposição a temáticos, cripto ou alavancados a no máximo 5% da carteira.
  3. Verifique o tracking error e a consistência do fundo.
  4. Use ETFs como parte de uma estratégia clara, não como apostas isoladas.
  5. Desconfie de ETFs ativos com taxa alta, pois a maioria não supera o índice.
  6. Mantenha disciplina fiscal e evite girar posições por impulso.

O QUE ESPERAR

O futuro aponta para mais desregulamentação. Com apoio político, ETFs de private equity, stablecoins e até produtos estruturados complexos devem ganhar espaço. Ao mesmo tempo, a competição por taxas deve aumentar, com Vanguard, BlackRock e Schwab pressionando custos até o limite.

ETFs são uma revolução. Mas como toda revolução, podem exagerar e terminar sair dos trilhos. A ferramenta que trouxe eficiência e transparência pode, se mal utilizada, se transformar em uma armadilha de hype, excessos e baixa convicção. Seu papel como investidor é separar utilidade de euforia.

ETFs não são vilões. Mas também não são atalhos mágicos. São espelhos da sua estratégia (ou da sua falta dela).

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Renan Zanella, CFA
Renan Zanella, CFA
Artigos: 136

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